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Transformadores
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Roberta Chaves de Oliveira
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Postado:
Fonte:
27/01/23
Somos Diversidade
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Sou Historiadora e Analista de costumer experience. A minha trajetória profissional começou como atendente de uma skate shop na cidade de Santa Rosa – RS, que não existe mais e era de um amigo do meu pai. Nessa época eu ainda não tinha iniciado minha transição, o ano era 2009, fiquei apenas dois meses lá, pois o ambiente de trabalho era tóxico. O dono (amigo do meu pai) não aceitava que mesmo sem clientes na loja eu sentasse por exemplo. Depois dessa experiência horrível, tive mais tarde, também ainda em Santa Rosa outra oportunidade no ano de 2013, onde também trabalhei na empresa de um amigo da família.
Agora em um cargo de auxiliar de escritório/estoquista/entregadora. Sim, um acúmulo de funções que era visto como o “vestir a camisa da empresa”. Além desse grave problema, o dono da empresa, um atacado de produtos alimentícios e de limpeza em geral, se envolvia em esquemas de combinação de preços em licitações públicas de prefeituras da região. Para fechar o pacote completo, ele era abusivo e praticava assédio moral comigo e as outras pessoas que lá trabalhavam.
Saí dessa empresa, depois de 6 meses horríveis e horas extras absurdas e combinadas de último momento. Eu demorei esse tempo, pois estava utilizando parte do salário para custear o curso superior que fazia na época, também sai dele. Me mudei de cidade por conta de ser aprovada na universidade federal de Santa maria, em 2014, no curso de História, que me formei nesse ano de 2021. Tive aqui em Santa maria, experiências de emprego em formatos de contratação diferentes, como intermitente na parte de atendimento na magazine Luiza, e MEI em uma startup, nenhum dos dois me satisfazerem, pois a remuneração era muito baixa para a carga horária. Fiquei um bom tempo como contratada da magazine Luiza, mas por ser intermitente, a periodicidade do trabalho era muito dispersa o que implicava na instabilidade de remuneração, isso foi de novembro de 2019, até outubro de 2021.
Como MEI, tive minha primeira experiência em home-office, foi bem ruim, pois tinha de trabalhar por produtividade, não havia um horário de entrada e saída, nem salário por óbvio. Essas duas últimas experiências que tive, foram após o início da minha transição de gênero, e de fato nunca sofri transfobia. Em meu emprego atual que consegui através do TransEmpregos, na Nomah, estou muito feliz, pois consegui finalmente entrar em uma empresa que enxergou potencial em mim, pensa e tem uma política bem estabelecida sobre diversidade, tem um ambiente de trabalho saudável, com apoio de material e benefício para a vaga que estou que é home office como analista de experiência do cliente.
Minhas experiências anteriores me chocam um pouco por terem sido em locais nos quais eu realmente não sentia que minhas habilidades e potências profissionais estavam sendo bem utilizadas, incentivadas e desenvolvidas. Sei da realidade da maioria de nós mulheres trans pretas, que sumariamente tem no trabalho sexual a única via para ter algum tipo de renda. Bem como ter conseguido me formar em um curso de nível superior na ciência que amo. Foram duas conquistas profissionais muito marcantes na minha trajetória de vida até então e me sinto muito feliz por isso.
Quais as maiores conquistas e os maiores desafios em sua vida/carreira?
Acredito que como uma mulher trans preta, ocupar certos espaços por mais que sejam muito merecidos e direitos, causa uma insegurança e uma necessidade de provação constante. Tento lidar com isso, pois venho de um processo de saída de um quadro inicial de depressão que foi diagnosticado logo quando iniciei minha transição no final do ano de 2018, e ansiedade, duas condições que me fazem ter uma conduta de auto sabotagem em certos momentos. Acreditar no próprio potencial e dizer para si mesma que eu mereço sim isso e tudo que eu quiser para o meu bem, profissional no caso, é um grande desafio para eu conseguir ser confiante, capaz e com habilidade. Gostaria de agradecer a todas as pessoas envolvidas no TransEmpregos, pois é um serviço incrível que vocês fazem para as pessoas trans, nesse país que não olha para nós com uma verdadeira intenção de querer nos ver referência de algo bom na sociedade.
Ser uma pessoa trans foi dificultador ou não teve importância nesta sua trajetória?
Com certeza, principalmente antes da retificação da minha certidão, ter de explicar em uma entrevista o direito de uso e validação que o nosso nome por exemplo tem, para além de uma documentação legal..
Para as pessoas e profissionais trans, que recado você deixaria?
A sociedade ainda não nos quer em determinados locais, e trabalho formal é um deles, se você tiver uma oportunidade que você considere boa, vá com tudo, pois elas são muito escassas para nós pessoas trans.
Para a sociedade, qual recado você deixaria?
Parem de nos matar, parem de acreditar que somos trans por opção, parem de nos privar de direitos básicos, parem de infantilizar ou sexualizar nossas decisões pessoais.
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